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Sobre leite com café

Gosto de tomar leite, com café. Bebo sempre que preciso me sentir abraçado.

Gosto desde a mamadeira e deve ser por isso que me conforta tanto.

Se preciso me dar alguns minutos de ternura em meio a essa vida dura, preencho a xícara com leite, então me ponho a colorir o leite com café.

Por fim, os coloco dentro do micro-ondas, como um grão de areia dentro da concha. Então, se reparamos bem na cor, café com leite se tornam um e ficam perolados.

Em Mogi Mirim bastava 1 min e o micro-ondas deixava o leite com café no ponto. Em Curitiba, preciso esperar 40 segundos a mais. Acho que isso explica muita coisa.

Curitibanos, primeiras impressões.

Curitibanos são (muito) bonitos, se vestem bem, falam inglês fluente, amam hambúrguer, são bairristas (demais), viajam com frequência, respeitam regras…

Curitibanos correm pra não perder o ônibus, tem olhos coloridos, cultivam caras fechadas (acho que por influência da previsão do tempo) e, tenho quase certeza, inventaram essa de usar moleton como tendência de moda

Curitibanos fingem não se importar com a vida alheia, mas observam tudo atentamente (Ta’í o Oilman que não me deixa mentir sozinho) e não têm riso fácil, mas quando, é um sorriso sincero.

Curitibanos são educados (por osmose) e mal-educados com raiva. Raiva de que? Não sei. Talvez raiva do sol, que raramente vem.

Curitibanos são pálidos, como se fossem figurantes em algum filme da saga Crepúsculo. Falam leiTe, assistem peças, espetáculos de dança ou música e moram em sobrados, quer dizer, shoppings.

Curitibanos não te deixam entrar no meio de peças que já começaram. E te convidam a ir embora do bar, quando é hora de fechar.

Curitibanos chamam os não-curitibanos de forasteiros.

Curitibanos são caseiros, não jogam papel no chão e me tratam como se eu fosse um deles. Talvez eu seja.

O mendigo da Praça da Bandeira

Depois de dias apenas envolto em fedorentas cobertas velhas, hoje finalmente olhei nos olhos do mendigo da Praça da Bandeira. Que não me olhou de volta, pois estava com o olhar perdido. Chovia muito e o frio era óbvio.

Eu poderia lhe oferecer um pacote de bolacha, assim como fiz há algum tempo com o mendigo da Praça Chico Mendes. Poderia lhe comprar uma marmita na hora do meu almoço. Talvez sentar com ele alguns minutos, tentar entender o porquê e ajudá-lo a voltar pra casa. Mas não sei se conseguiria, uma vez que o olhar dele não me convidou para entrar.

Marcelo disse que aqui existe uma espécie de perua kombi, que convida os mendigos para ir até abrigos e que ele só está ali, na chuva, sozinho, no frio, com fome, na praça, porque quer.

Passo todo dia pela Praça da Bandeira, entro no tubo, pego o Inter II sentido Cabral e vou para casa, que não é minha, mas é quente e seca. E todo dia, vejo aquela imagem e por alguns segundos me sinto a pior pessoa, justamente por não saber o que fazer para ajudá-lo.

4°c em Curitiba, e o que podemos fazer?

Sobre sair de casa aqui

Acho tão Londres… tão Manhattan… tão ilustrações do meu livro de inglês… ter de colocar camadas de casacos antes de sair de casa. E depois, quando volto, ter de tirar camada por camada.

O comentário acima me leva a outro, abaixo.

Eu sempre reparo em coisas desnecessárias. É bobagem e não tem serventia nenhuma, mas acho legal isso dos casacos. Como diz Pedro Kastelic, do Storytellers, a origem das boas ideias está na percepção de quem as pensa. Identifico-me com essa afirmação que de alguma forma me conforta. Só não paga minhas contas, ainda.